Papa Francisco transforma funerais papais para romper com tradição imperio

O funeral do papa Francisco, que faleceu na segunda-feira (21/04) em Roma aos 88 anos, será realizado no próximo sábado (25) e marcará um rompimento com os rituais luxuosos adotados por seus antecessores. A cerimônia seguirá diretrizes criadas pelo próprio pontífice para que a despedida de um papa reflita o papel de um pastor, e não o de uma figura imperial.

Jorge Mario Bergoglio, o primeiro papa sul-americano e também o primeiro jesuíta a ocupar o trono de Pedro, deixou claro desde sua eleição em março de 2013 que desejava uma Igreja “pobre e para os pobres”. Essa escolha se traduziu em diversos gestos — como viver na residência Santa Marta, em vez do tradicional apartamento papal — e agora se reflete também em seu funeral.

Novas regras para um novo tempo

Em abril de 2024, Francisco aprovou uma nova edição do ritual litúrgico para funerais papais, o Ordo Exsequiarum Romani Pontificis. O documento, publicado oficialmente em novembro, determina mudanças importantes: o objetivo é enfatizar a imagem de um papa como servo de Cristo, e não como um líder secular revestido de poder.

“A ideia é que o funeral se assemelhe mais ao de um bispo diocesano do que ao de um imperador romano”, explicou à BBC o teólogo Massimo Faggioli, da Universidade Villanova (EUA).

Um caixão só — e nada de pompa

Entre as mudanças mais simbólicas está o abandono do costume dos três caixões (cipreste, chumbo e carvalho), que por séculos serviram para proteger o corpo do papa e representar diferentes aspectos da fé e da autoridade papal. Francisco será sepultado em um único caixão de madeira com revestimento de zinco, simples e discreto.

As três estações do funeral

O processo fúnebre do papa é dividido em três fases conhecidas como “estações”. A primeira começa com a confirmação de sua morte — realizada por um ritual tradicional com três chamados pelo nome, seguidos por golpes leves na cabeça com um pequeno martelo, conduzido pelo camerlengo, cardeal Kevin Joseph Farrell. Francisco, que vivia em Santa Marta, não teve a morte confirmada em seu apartamento papal, como ocorria até então.

Na segunda fase, o corpo é levado à Basílica de São Pedro. Outra mudança: o corpo não será colocado sobre um catafalco (a plataforma elevada coberta de veludo), mas permanecerá no caixão, à vista dos fiéis, sem os bastões cerimoniais usados em outros funerais.

A terceira estação culmina com o sepultamento — que também foge do padrão.

Sepultamento fora do Vaticano

Desde o início do século 20, todos os papas foram enterrados nas grutas sob a Basílica de São Pedro. Francisco, no entanto, escolheu a Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma, como seu local de descanso final.

O local tem forte significado para ele: era onde costumava rezar antes e depois de cada uma de suas 47 viagens apostólicas. Em seu testamento, redigido em 2022 e divulgado pelo Vaticano no dia de sua morte, o pontífice escreveu:

“Sempre confiei minha vida e meu ministério à Mãe de Nosso Senhor, Maria Santíssima. Por isso, peço que meus restos mortais descansem na Basílica Papal de Santa Maria Maggiore.”

Seu túmulo será discreto, enterrado no corredor lateral da basílica, entre a Capela Paulina e a Capela Sforzesca, com apenas uma inscrição: “Franciscus”.

Depois do adeus

O funeral marcará o início dos Novemdiales — nove dias de missas em memória do papa. Após esse período, começam os preparativos para o conclave, que, tradicionalmente, ocorre cerca de 15 dias após a morte do pontífice.

By Acontece em Canoas

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