O Dia dos Namorados, festejado em 12 de junho, é uma data para celebrar as conexões amorosas. Entretanto, também é uma oportunidade de refletir sobre aspectos da saúde mental que podem ser estendidos para todos os tipos de relacionamento. Por isso, a psicóloga Lua Helena Moon Martins Cardoso, da Hapvida, faz um alerta: o amor de verdade “não deve machucar”. Em uma relação, a pessoa deve se sentir livre, segura e aceita.
O alerta ganha força diante de inúmeros casos de violência envolvendo casais. “Um relacionamento abusivo nem sempre se revela de forma óbvia. Muitas vezes, começa de maneira silenciosa, com atitudes que até parecem cuidadosas, mas que escondem controle, manipulação e um tipo de medo difícil de explicar”, comenta Lua. “Nesse cenário, aos poucos, a pessoa perde a liberdade de ser quem é. O abuso aparece quando existe uma tentativa constante de moldar o outro, de fazer com que ele duvide da própria percepção”, completa.
Frases como “você está exagerando” ou “foi só uma brincadeira” se repetem até a vítima acreditar que esteja vendo tudo errado. “Quando isso acontece, já é sinal de que algo muito sério está acontecendo”, alerta Lua.
Outros sinais são o cansaço, a tristeza e a insegurança diante da relação. Muitas vezes, a relação “tóxica” não é visível, pois há uma ligação emocional forte e uma esperança de que as coisas vão melhorar. Há momentos bons que alimentam a expectativa de mudança. “O agressor, quase sempre, alterna entre machucar e pedir desculpas, e promete que vai mudar. A vítima acaba acreditando, não porque seja fraca, mas porque está em um ciclo emocional difícil de quebrar. O medo de ficar sozinha e a ideia de que aquilo é o melhor que se pode ter vão se tornando barreiras para sair”, diz a psicóloga.
Deixando marcas emocionais
Esse tipo de relação deixa marcas emocionais e na identidade da pessoa. Quando o relacionamento chega ao fim, o sentimento é de vazio. “É como se a pessoa precisasse reaprender quem é, o que faz bem ou mal. Sintomas como ansiedade, tristeza profunda e crises de pânico também são comuns”, afirma a especialista.
Para quem está próximo, Lua recomenda um acolhimento da pessoa com cuidado e sem julgamento, inclusive porque há casos mais vulneráveis. São pessoas que cresceram sem muito afeto ou com medo de ser rejeitado, que se sentem atraídas por afirmações como “só eu te amo de verdade” ou “sem mim você não vai conseguir”. “Parecem demonstrações de amor, mas escondem uma tentativa de controle emocional. E é aí que o abuso se fortalece: quando toca nos pontos mais sensíveis da história de alguém. Isso não significa que a culpa é da vítima – de forma alguma. Mas entender essas dinâmicas pode ajudar a perceber os sinais mais cedo e buscar ajuda”, recomenda.
No Brasil, o Dia dos Namorados é festejado desde os anos 1940. “Diante de tantas mensagens bonitas, é importante lembrar que amor de verdade não deve machucar, confundir ou causar medo. Amor é quando você se sente livre e aceita, pode dizer o que pensa sem medo da reação. Do contrário, talvez valha a pena olhar para isso com carinho, inclusive buscando ajuda entre os profissionais da saúde”, recomenda. “O amor saudável fortalece, e não compensa viver um amor um que te consuma”, conclui a psicóloga.
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